Leishmaniose Tegumentar na comunidade indígena Xakriabá: Estratégias para a adequação do serviço de Saúde, prevenção e controle da Doença

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No período de junho de 2008 a dezembro de 2011 um amplo estudo sobre a leishmaniose tegumentar foi realizado na Terra Indígena Xakriabá abordando aspectos relacionados ao parasito, aos reservatórios, aos vetores e à doença humana na perspectiva de avaliar os fatores de risco associados à aquisição da infecção e ao desenvolvimento da doença. A Terra Indígena Xacriabá, localizada no norte de Minas Gerais, foi escolhida para o estudo, principalmente, em função do interesse dos próprios indígenas. Esse interesse foi manifestado em reuniões prévias com membros do grupo de pesquisas Célia Gontijo, Patrícia Quaresma, Elizabeth Moreno e Janaina Freire do Centro de Pesquisas René Rachou/Fiocruz Minas, lideranças indígenas, representantes da Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI) e das instituições do município onde se localiza a reserva.

 

 
A importância da leishmaniose tegumentar como problema de saúde pública entre os índios da Terra Indígena Xakriabá reside não apenas na sua elevada incidência, como também nos transtornos que ela vem ocasionando à vida dos indivíduos afetados. O estudo seccional realizado em 2008 em duas aldeias comprovou a alta prevalência dos casos clínicos (8%) como também da infecção assintomática (19%). Devido ao risco da ocorrência da forma mucosa que pode produzir deformidades, acarretando implicações no campo psicológico e social, a leishmaniose tegumentar merece atenção especial dentre as doenças endêmicas que acometem esta população. Desde a sua implantação o projeto colaborou com ações visando a melhoria do diagnóstico e tratamento. Esta intervenção contribuiu de forma decisiva para a detecção mais rápida e segura dos casos, uma vez que os métodos utilizados forneceram a confirmação parasitológica da infecção. Além da melhoria no diagnóstico, o encaminhamento dos casos para tratamento aconteceu de forma mais acelerada, com acompanhamento feito por um clínico, incluindo também, exames laboratoriais recomendados pelo Ministério da Saúde (MS, 2007).

 

 
Não se conhecia a extensão do problema na região, pois não existiam estudos anteriores sobre a epidemiologia da leishmaniose tegumentar na área.

 

 
Durante o desenvolvimento do projeto foi constatada a fragilidade do sistema de detecção da infecção humana por Leishmania, sendo o diagnóstico e o tratamento realizados de forma bastante precária devido às limitações de infraestrutura e capacitação de pessoal. A adequação do serviço de saúde para a realização do diagnóstico precoce e seguro, bem como a implantação de um protocolo para a realização dos exames pré-tratamento e de acompanhamento, segundo as recomendações do Ministério da Saúde (MS, 2007), foram questões abordadas pela pesquisa visando contribuir para o controle da transmissão na área.
Foi desenvolvido e implementado junto aos gestores municipais e profissionais de saúde do município um “Protocolo para Abordagem dos Portadores de Leishmaniose Tegumentar Americana de São João das Missões, Minas Gerais” e estabelecidos os fluxos de referência e contra-referência dos pacientes, com o objetivo de promover a humanização da assistência aos portadores da doença deste município. Também foi desenvolvida, com a participação de membros da comunidade, especialmente os professores indígenas, uma cartilha “Leishmaniose Tegumentar: Controle e Prevenção na Terra Indígena Xakriabá” que será utilizada como instrumento de educação para prevenção e controle da leishmaniose tegumentar. Nesta perspectiva, este projeto de pesquisa favorece a transformação das práticas em saúde nas áreas indígenas visando a integralidade no processo saúde-doença-cuidado, bem como, melhores condições de vida e saúde e inclusão social dessa população, reconhecida como portadora de um saber específico.

Colaboradores do Projeto:

Centro de Pesquisas René Rachou –Fiocruz Minas:
• Patrícia Flávia Quaresma
• Janaina de Moura Freire
• Felipe Dutra Rego
• Raquel Carvalho Gontijo
• Andréa Teixeira de Carvalho
• Matheus Fernandes Costa e Silva
• Olindo Assis Martins Filho
• Vanessa Peruhype Magalhães Pascoal
• Gabriel Tonelli
• Helbert Antonio Botelho
• Agnes Antônia Sampaio Pereira
• Jeronimo Marteleto Nunes Rugani
• Agna Cristina Guimarães
Universidade Federal de MG:
• Maria Norma Melo
• Elizabeth de Castro Moreno
Escola de Saúde Pública do Estado de Minas Gerais:
• Marilene Barros de Melo
• Ana Flávia Quintão Fonseca
• Juliana Lúcia Costa Santos
• Michely de Lima Ferreira Vargas
• Raquel Aparecida Ferreira